Documentos

Texto 1.
ÚLTIMA CARTA DE OLGA BENÁRIO
Última carta de Olga Benário para sua filha Anita e seu amado Luiz Carlos Prestes. Escrita às vésperas de sua execução na câmara de gás, na Alemanha de Hitler.

“Queridos: Amanhã vou precisar de toda a minha força e de toda a minha vontade. Por isso, não posso pensar nas coisas que me torturam o coração, que são mais caras que a minha própria vida. E por isso me despeço de vocês agora.
É totalmente impossível para mim imaginar, filha querida, que não voltarei a ver-te, que nunca mais voltarei a estreitar-te em meus braços ansiosos. Quisera poder pentear-te, fazer-te as tranças - ah, não, elas foram cortadas. Mas te fica melhor o cabelo solto, um pouco desalinhado. Antes de tudo, vou fazer-te forte. Deves andar de sandálias ou descalça, correr ao ar livre comigo. Sua avó, em princípio, não estará muito de acordo com isso, mas logo nos entenderemos muito bem. Deves respeitá-la e querê-la por toda a tua vida, como o teu pai e eu fazemos. Todas as manhãs faremos ginástica... Vês? Já volto a sonhar, como tantas noites, e esqueço que esta é a minha despedida. E agora, quando penso nisto de novo, a idéia de que nunca mais poderei estreitar teu corpinho cálido é para mim como a morte.
Carlos, querido, amado meu: terei que renunciar para sempre a tudo de bom que me destes? Conformar-me-ia, mesmo se não pudesse ter-te muito próximo, que teus olhos mais uma vez me olhassem. E queria ver teu sorriso. Quero-os a ambos, tanto, tanto. E estou tão agradecida à vida, por ela haver me dado a ambos.
Mas o que eu gostaria era de poder viver um dia feliz, os três juntos, como milhares de vezes imaginei. Será possível que nunca verei o quanto orgulhoso e feliz te sentes por nossa filha? Querida Anita, Meu querido marido, meu garoto: choro debaixo das mantas para que ninguém me ouça pois parece que hoje as forças não conseguem alcançar-me para suportar algo tão terrível.
É precisamente por isso que me esforço para despedir-me de vocês agora, para não ter que fazê-lo nas últimas e difíceis horas. Depois desta noite, quero viver para este futuro tão breve que me resta. De ti aprendi, querido, o quanto significa a força de vontade, especialmente se emana de fontes como as nossas. Lutei pelo justo, pelo bom e pelo melhor do mundo. Prometo-te agora, ao despedir-me, que até o último instante não terão porque se envergonhar de mim.
Quero que me entendam bem: preparar-me para a morte não significa que me renda, mas sim saber fazer-lhe frente quando ela chegue. Mas, no entanto, podem ainda acontecer tantas coisas... Até o último momento manter-me-ei firme e com vontade de viver. Agora vou dormir para ser mais forte amanhã.
Beijos pela última vez. Olga”

Texto 2.
BOMBA ATÔMICA

Bomba atômica possui efeitos devastadores.
As bombas nucleares, por serem radioativas, têm capacidade de induzirem mutações celulares. Cegueira, surdez, infertilidade e cânceres são algumas enfermidades que vítimas do lançamento das bombas, como as de Hiroshima e Nagasaki, estão sujeitas. Tal assunto é bastante rico, pois a partir dele pode ser estudado e discutido diversos aspectos, como os limites da ciência e tecnologia, a ganância humana, a segunda grande guerra, radioatividade, dentre outros.
Sugiro, desta forma, que seja desenvolvido o projeto “Rosa de Hiroshima” no qual, durante uma semana, todos os professores abordarão esta temática, a partir dos poemas de Vinícius de Moraes: “Rosa de Hiroshima” (interpretado por Ney Matogrosso) e “A Bomba Atômica”.
O professor de Português e Literatura poderão enfocar a interpretação e demais aspectos relacionados à construção destas produções. O que significaria, por exemplo, expressões como “rotas alteradas”, “rosa hereditária”, “rosa com cirrose”? Como podemos interpretar o fato da música tocar só uma vez e sem refrão?
Já os professores de História e Geografia poderão discutir o contexto histórico da guerra e o estopim, as redes de interesses dos países imperialistas, países envolvidos nas grandes guerras e as alianças político-militares, a criação de bombas atômicas, dentre outros. Uma abordagem sobre Hiroshima antes e depois da tragédia também pode ser bastante válida.
Os educadores de Química, Física e Biologia podem trabalhar o que é a radioatividade, suas aplicações, uso pacífico e não pacífico deste tipo de energia, tipos de emissão de partículas, efeitos no organismo e em populações a curto e longo prazo, lixo atômico, dentre outros assuntos. Pode ser citado o caso do Césio 137, em Goiânia, e a alta incidência de cânceres nesta região e a morte de Marie Currie pelo contato direto e frequente com estas partículas.
O professor de Física poderá também, juntamente com o de Matemática, trabalhar o conceito de meia-vida e calcular a de alguns elementos radioativos. Para este último profissional, sugiro que seja feita a construção de gráficos e cálculo de porcentagens, por exemplo, do número de mortos na Primeira e Segunda Guerra Mundial, comparando os resultados.
O professor de Sociologia, Filosofia e Religião podem abordar aspectos éticos relacionados a esta temática e valores humanos. Já os de Educação Física e de Artes podem propor a construção de uma peça teatral, caso este segundo tenha esta formação. Se este não for o caso, sugiro a criação de músicas ou uma exposição.
Para encerrar o projeto, a música “A paz”, de Gilberto Gil e João Donato deverá ser reproduzida e interpretada pelos professores de Português e Literatura.

A Bomba de Hiroshima

O lançamento da bomba de Hiroshima simbolizou, dentro da história, um dos episódios finais da Segunda Guerra Mundial. O Japão resistia copiosamente ao avanço norte-americano das mais variadas formas. Com o intuito de apressar a rendição japonesa e demonstrar ao mundo o poder bélico estadunidense, um bombardeiro B-29 lançou uma bomba atômica à base de urânio que explodiu a 580 metros de altitude de Hiroshima, no dia 06 de agosto de 1945, às 8 h e 15min. Oitenta mil pessoas morreram, as que sobreviveram a esse monstruoso ataque foram obrigadas a conviver com o caos e as terríveis sequelas da radiação nuclear.
Dentro desse aniquilador contexto histórico, Vinicius de Moraes compôs o poema Rosa de Hiroshima, certamente como forma de denúncia social e como expressão da sua revolta pelos horrores causados na população de Hiroshima. O poema Rosa de Hiroshima foi musicado e interpretado por vários artistas, sendo um deles o cantor Ney Mato Grosso. O uso do poema em sala de aula é uma excelente estratégia de ensino e abordará aspectos da história sobre a Segunda Guerra Mundial e o lançamento da bomba de Hiroshima.
Sugiro também ao professor a leitura do texto Projeto: bomba atômica, a leitura do projeto propõe um trabalho multidisciplinar interessante que alcançará as disciplinas voltadas para as ciências humanas, sociais e exatas.
Rosa de Hiroshima (Vinicius de Moraes)
Composição: João Apolinário / Gerson Conrradi
Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas, oh, não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa, sem nada
• Trabalhe o poema em formato musical e distribua a letra da música para cada aluno, dessa forma ele escutará a canção e acompanhará a letra, isso evitará que o seu aluno fique perdido ou disperso.
• Ajude-os a interpretar a música, mostrando a riqueza da composição e dos recursos estilísticos do autor.
• Mostre imagens do lançamento da bomba de Hiroshima.
• Distribua dicionários.
• Trabalhe a interpretação do poema de forma que os alunos compreendam o sentido denotativo e conotativo dos fragmentos poéticos.
• Peça aos seus alunos para associarem (verbalmente) a música poema com o lançamento da bomba de Hiroshima, questionando-os: 

1. O que significa o título do poema Rosa de Hiroshima? 
2. Vinicius, no poema, pede Pensem nas crianças, nas mulheres, nas feridas. O que ele quer dizer?
3. Existe alguma relação entre as sequelas deixadas pela radiação e alguma parte do poema? Se sim, explique.
4. O racismo teria contribuído para o lançamento das bombas sobre o Japão?
5. O lançamento da bomba de Hiroshima representava o quê para os norte- americanos?
6. O Japão suportaria uma invasão norte-americana massiva? Justifique.
7. O lançamento da bomba foi uma demonstração de poder estadunidense?
Atenha-se para que os questionamentos não fiquem soltos e a aula desordenada.
Depois de todo o debate, divida os alunos em dupla e peça uma pesquisa sobre como está Hiroshima hoje. A pesquisa será entregue em dia estipulado pelo professor e deverá constar toda referência bibliográfica usada.

Texto 3.
Olga e a história que não deve ser esquecida

O filme Olga, baseado no livro de Fernando Morais a respeito da alemã comunista que foi mulher do líder comunista brasileiro Luiz Carlos Prestes, enfim chegou aos cinemas. Com pinta de grande sucesso, com o rótulo de superprodução a arrebatar platéias e com a marca de um diretor de novelas consagrado – Jayme Monjardim, de Pantanal e A Casa das Sete Mulheres, entre outras.
A vida de Olga Benário Prestes foi digna de ser filmada. Revolucionária, amante do maior nome do comunismo no Brasil, viveu no período entre-guerras e sofreu pela sua condição de judia. Filha de uma família de classe média alemã, rompeu com a mesma para se dedicar à causa socialista, unindo-se ao governo revolucionário soviético. Olga, o filme, mostra desde sua saída de casa, ainda jovem, pela incompatibilidade com a postura da família até sua morte (sim, qualquer espectador minimamente informado sabe que ela morreu nas mãos de Hitler e seu regime nazista) numa câmara de gás em 1942.
Do Brasil ela se tornou conhecida e ganhou relevância histórica justamente por seu envolvimento com Prestes, o mesmo que se elevou contra o governo brasileiro na então chamada Coluna Prestes (uma referência apenas reverenciada no filme, que iniciou o contato e admiração de Olga pelo futuro esposo) e viveu quase a vida toda clandestinamente, preso ou perseguido por Getúlio Vargas. Seu romance com Prestes rendeu-lhe uma página de destaque na história do Brasil contemporânea, coisa que o livro de Fernando Morais engrandeceu e, num certo sentido, fez jus a seu nome.
O filme é formado por diversos flashbacks de Olga já presa e às vésperas de ser assassinada. De seu rosto sem cabelos, sofrido, mas que nunca deixou de transmitir emoção e compaixão. A atriz Camila Morgado, apesar de uma interpretação um tanto mecânica, tem seu forte justamente na expressão facial, especificamente em seus grandes olhos azuis. Seus olhos representam sua força e sua ambição, sua trajetória e seu sofrimento, seu desencanto e sua esperança. É através deles que Olga se apóia como narrativa, são eles a guiar, a insistir, a dominar o centro das telas. Duas imensas bolas azuis hipnotizantes que fazem de Olga a grande heroína que o filme quer construir. Olga, uma heroína nacional, mesmo sendo estrangeira.
Os olhos de Olga são também o grande chamariz da história. Num filme em que predomina o cinza, o preto e o branco, a força de um par de olhos azuis surge como aquilo que pode fazer a diferença. Pela iluminação, muitos planos fechados e filmagens em interior, o cinza e sua monotonia gerados são sempre quebrados pelo profundo azul de seus olhos. Como no poema em que Prestes e Olga declamam ao fazerem amor e sempre relembram, “Iluminar... Iluminar como o sol, iluminar e só”. Os olhos de Olga são exatamente isso – a iluminação que o mundo precisaria naquele instante (e no de hoje também, se pensarmos que toda obra fala de seu próprio tempo). Eles funcionam tal qual A Lista de Schindler, de Steven Spielberg, um filme todo preto & branco em que a única coisa com cor é uma garotinha de vestido vermelho que surge na tela por alguns segundos em meio aos cadáveres do holocausto.
Apesar de o filme ser centrado quase o tempo todo na figura de Olga Benário, os coadjuvantes conseguem ser excelentes dentro do elenco montado pela produção. Aliás, o que parece indiscutivelmente impecável em Olga é a produção, a escalação de elenco e direção de arte. Osmar Prado como Getúlio Vargas, Floriano Peixoto como Filinto Muller, Murilo Rosa como um policial alucinado pela captura de Prestes e Luis Mello como o pai de Olga têm pequenas participações, mas representam os grandes nomes do cenário nacional da época com destreza e convicção. O todo funciona muito bem, com grandes atuações numa narrativa que não se perde em nenhum momento, exceto naqueles em que o diretor se dedica a explorar exaustivamente o romance entre os protagonistas, caso do encontro no navio na volta ao Brasil.
Em se tratando do casal protagonista, Prestes e Olga, interpretados por Caco Ciocler e a já citada Camila Morgado, há pouca química entre eles e parece que Monjardim não soube encontrar a mão para as cenas de amor e conversa entre eles. Tanto um quanto outro soam mecânicos demais, frios demais. Não têm a sutileza e a expressão de quem se apaixona. Essa falta de química é ainda mais acentuada pelo físico de cada um. Talvez por ser Olga a personagem central da trama, ela aparece ao lado de Prestes sempre mais alta, mais altiva e mais poderosa, dona da situação. As cenas entre eles – basicamente plano e contraplano – reforçam ainda mais essa distinção, focando Prestes de cima e Olga de baixo. A impressão que fica é a de uma Olga extravagante, que extrapola a pequenez de Prestes. Diante de Olga, Prestes é um mero coadjuvante, ser humano ínfimo diante do poder e força daquela mulher que o olha com olhos de um brilho frio, tal qual uma pérola recém-colhida.
O único momento de força entre Olga e Prestes é exatamente o da separação após serem presos. Separados para interrogatório, abraçam-se com todas as forças e são aos poucos “descolados”, com as mãos de cada um se arrastando pelo braço do outro até que elas se encontram e enfim se desatam. Ironias do amor, esta seria a última vez que se viam e se falavam, um amor que durou pouco (aproximadamente dois anos), mas deixou marcas profundas e uma filha – Anita Leocádia.
Na forma do filme reside o maior problema de Olga. Por razões que podemos conjecturar aqui, o diretor Monjardim filmou pouco mais de duas horas de uma única forma. O filme tem cara de novela das oito da TV Globo do início ao fim, não há nenhum plano que fuja do plano/contraplano e do plano americano (aparece a pessoa da cintura pra cima). Além do mais, ele filma quase que sempre com a câmera colada ao rosto dos personagens, resultando num filme extremamente fechado, quadrado, em que só se vê o rosto dos personagens e quase nada do cenário. As cenas de interior são de uma pobreza estética capaz de dar às novelas um ar de vanguarda. A todo momento o que se vê é apenas rostos, expressões faciais, bocas murmurando e olhos mirando.
Essa opção de linguagem (mais televisão do que qualquer coisa) pode ser explicada por diversos fatores, entre eles o econômico, por, assim, não precisar se preocupar com construções de cenários. Mas também podemos dizer que o filme foi produzido já pensando para a sua exibição posterior na televisão (claro que na TV Globo, co-produtora do filme pela Globo Filmes) e que o formato, próximo das novelas, mais palatável às massas, garantiriam a audiência. Outra razão? Essa linguagem com certeza também irá atrair mais público para os cinemas, que numa linguagem mais “familiar” (para não dizer outra coisa) não teria dificuldades para entender e deglutir um filme com uma temática já por demais pesada.
O roteiro, escrito pela produtora Rita Buzzar, também busca simplificar a história em prol da fluência da narrativa, apesar de constantes flashbacks a embaralhar tempos. Dentro da temática da revolução vivida nos anos 20 e 30 no Brasil e no mundo – universo de convivência de Olga e Prestes – e do nazismo e da presença dos campos de concentração, os clichês não poderiam faltar. Mensagens de esperança, dor e sofrimento se alternam a discursos revolucionários e utópicos. Olga quer mudar o mundo, como todo bom revolucionário socialista que se preze, nem que seja à força. Não há maior clichê do que a conversa entre a adolescente Olga e seu pai, quando esta decide deixar a família e se unir aos soviéticos na luta pela revolução e pela instalação do comunismo em todo o mundo (menos na Suíça, pois é preciso haver algum lugar para se descansar dos comunistas, como diz um dirigente do alto escalão soviético na única piada que o filme traz).
Olga oscila entre tempos mortos e grandes momentos. Por ironia, os dois momentos mais mágicos do filme acontecem em cenas quase que seqüenciais. Após nascer sua filha, Olga amamenta por 14 meses na enfermaria da prisão alemã. É o único momento em todo o filme em que a vemos feliz, alegre, sorridente. Numa montagem sem diálogos, temos diversos fade in e fade out (a tela escurece devagar e clareia devagar) de situações dela com a filha recém-nascida. Ao fundo, a voz da personagem escreve uma carta a seu amado, preso no Brasil, falando sobre a pequena. São cenas de um lirismo raro num filme que trata de um mundo embrutecido, cenas que destoam de todo o restante. Ao mesmo tempo, essas cenas são o prólogo para a crueldade que viria depois – a tomada à força da filha de seus braços. Novamente Camila Morgado sozinha em cena após as oficiais nazistas lhe tirarem a criança dos braços. Num acesso de raiva e dor, ela esperneia, chora, se debate, luta pela posse da filha. Derrotada, caída ao chão diante da grade que a separava dos demais recintos, sofre a perda de sua felicidade, demonstrada naquele primeiro momento dito acima. Seus olhos, sempre eles, dizem mais que qualquer xingamento, que qualquer palavra de cólera proferida ao vento.
Olga tem um início canhestro, mas vai aos poucos se encontrando, principalmente depois da chegada de Olga e Prestes ao Brasil. Quando deixa o romance excessivo de lado (vício do cinema americano que já chegou ao nosso cinema) e prioriza a história, a revolucionária Olga Benário Prestes, o filme ganha em muito em interesse e qualidade. A pesquisa histórica foi bem-elaborada, contextualizando o período político brasileiro com rara inteligência no cinema. Deixa clara a posição de Vargas e seu oportunismo, mas não deixa de beber no maniqueísmo freqüente em se tratando de política (direita e esquerda, democracia e ditadura): Prestes, de um lado, e Vargas, de outro, representado no filme por seu braço direito, o oficial da polícia Filinto Muller.
O final do filme, com a leitura da última carta de Olga a Prestes e sua filha antes de ir para a câmara de gás, é o final eloqüente para uma produção que quis emocionar com a história de uma revolucionária que se descobriu mulher e mãe, mas não esqueceu nunca de crer e lutar pelo que acreditava. Até a sua morte, triste morte de um capítulo triste da história da humanidade, capítulo que não deve jamais ser esquecido para que não volte jamais a acontecer. Olga, mesmo com todos seus problemas, nos relembra e nos coloca nessa história.

Texto 4.
18 DO FORTE DE COPACABANA - 1922.

Documentos Oficiais
“Os dezoito do forte”

Eles eram dezoito... Os mais partiram
Tanto que a causa, enfim, viram perdida.
Eles – dezoito apenas – preferiram
Ficar, quando ficar custava a vida...

Poetas e heróis, à hora derradeira,
Como uma só mortalha ter quiserem.

Tomaram, soluçando, da bandeira
E em dezoito pedaços a fizeram...

Eles dormem agora: e, ao longe, sobre aqueles
Que os venceram, no forte, adeja outra bandeira
Porque aquela que os viu, a hora derradeira.
Lutar, morrer por ela, essa morreu com Eles...

(Reminiscências da epopéia de Copacabana)
Trechos do poema publicado no Jornal “Correio da Manhã” em setembro de 1923.
Autor desconhecido.

Textos encontrados nos pedaços da bandeira do Brasil:

"Aos meus pais e meus irmãos e a memória dos 28 companheiros e daquela que não posso dizer."
Siqueira Campos

"Forte de Copacabana, 7 de julho de 1922. Aos queridos pais ofereço um pedaço da nossa bandeira em defesa da qual resolvi dar o que podia, minha vida." Mario Carpenter

Pedaços da bandeira original estão em exposição no Forte de Copacabana.

Fonte: Pagina Oficial do Exército Brasileiro e arquivos históricos do Forte de Copacabana.


Texto 5.

A Revolta do Forte de Copacabana-1922

A Revolta do Forte de Copacabana, em 1922, foi o primeiro movimento militar armado, que pretendeu tirar do poder as elites tradicionais e esboçou a defesa de princípios modernizadores, refletindo o descontentamento com a organização política e econômica da época e características peculiares da formação do exército brasileiro.
No começo do século XX, o crescimento das cidades acentuou-se, destacando-se o Rio de Janeiro (capital do país) e São Paulo, esta última devido ao desenvolvimento da economia cafeeira. A vida urbana passou a se definir por novos padrões de consumo. Grandes avenidas foram abertas, assim como cinemas, teatros e grandes edifícios. Parte desta “modernização” estava associada diretamente ao capital inglês, investido na infra--estrutura: fornecimento de energia elétrica, serviço de transporte coletivo, água encanada e gás. Parte dos investimentos eram possíveis devido ao lucro proporcionado pela exportação de café. No entanto, essa modernização não alcançava as camadas populares, formada principalmente por operários, artesãos e desempregados, cerca de 70% da população, que vivia em situação precária.
A camada média e a classe operaria sofriam com a carestia, conseqüência da “política de valorização do café”, responsável pela desvalorização da moeda nacional para facilitar as exportações, assegurando os lucros do setor cafeeiro. A queda nas exportações de café levou o governo a constantes desvalorizações e conseqüente aumento do custo de vida. Das camadas urbanas, apenas a classe operária possuía algum grau de organização política e sindical.
Na década de 10, as greves haviam agitado as grandes cidades do país. No entanto, havia entre as camadas médias intenso descontentamento com a situação econômica e política, favorável a elite do café de São Paulo e Minas Gerais.
Ao se aproximar a sucessão presidencial de Epitácio Pessoa, em 1922, aguçaram-se as contradições entre o Exército e as oligarquias dominantes. O Exército já guardava ressentimento contra Epitácio, que havia nomeado o civil Pandiá Calógeras para o Ministério da Guerra. As coisas pioraram quando, em outubro de 1921, a imprensa divulgou cartas supostamente escritas pelo candidato oficial, Artur Bernardes, contendo acusações ao Exército e ofensas ao marechal Hermes da Fonseca, presidente do Clube Militar.
Em março de 1922, apesar da oposição, Artur Bernardes foi eleito presidente da República. Sua posse estava marcada para novembro. Em junho, o governo, ainda chefiado por Epitácio, interveio na sucessão estadual de Pernambuco e foi duramente criticado pelo marechal Hermes da Fonseca. Em reação, Epitácio, ordenou a prisão do marechal e o fechamento do Clube Militar, no dia 2 de julho de 1922.
Na madrugada de 5 de julho, a crise culminou com uma série de levantes militares. Na capital federal, levantaram-se o forte de Copacabana, guarnições da Vila Militar, o forte do Vigia, a Escola Militar do Realengo e o 1° Batalhão de Engenharia; em Niterói, membros da Marinha e do Exército; em Mato Grosso, a 1ª Circunscrição Militar, comandada pelo general Clodoaldo da Fonseca, tio do marechal Hermes. No Rio de Janeiro, o movimento foi comandado pelos "tenentes", uma vez que a maioria da alta oficialidade se recusou a participar do levante.
Os rebeldes do forte de Copacabana dispararam seus canhões contra diversos redutos do Exército, forçando inclusive o comando militar a abandonar o Ministério da Guerra. As forças legais revidaram, e o forte sofreu sério bombardeio. O ministro da Guerra, Pandiá Calógeras, empreendeu em vão várias tentativas no sentido de obter a rendição dos rebeldes.
Finalmente, no início da tarde do dia 6 de julho, ante a impossibilidade de prosseguir no movimento, os revoltosos que permaneciam firmes na decisão de não se renderem ao governo abandonaram o forte e marcharam pela avenida Atlântica de encontro às forças legalistas. A eles aderiu o civil Otávio Correia, até então mero espectador dos acontecimentos.
Conhecidos como os 18 do Forte - embora haja controvérsias quanto a seu número, pois os depoimentos dos sobreviventes e as notícias da imprensa da época não coincidem -, os participantes da marcha travaram tiroteio com as forças legais. Os tenentes Siqueira Campos e Eduardo Gomes sobreviveram com graves ferimentos. Entre os mortos, estavam os tenentes Mário Carpenter e Newton Prado.
Em 15 de novembro de 1922, Artur Bernardes assumiu a presidência da República sob estado de sítio, decretado por ocasião do levante de julho.

Texto 6.
Carta-testamento de Getúlio Vargas, 24 de agosto de 1954:

Mais uma vez, as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam, e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes.
Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre.
Não querem que o povo seja independente. Assumi o Governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores do trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Nas declarações de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia, a ponto de sermos obrigados a ceder.
Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo, que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar, a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida.
Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão.
E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História.

Getúlio Vargas. 

RESPONDA AS SEGUINTES QUESTÕES:

1- Selecione e anote no seu caderno os trechos da carta em que Vargas demonstra o seu nacionalismo.
2- A que fato Vargas se refere quando diz " contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios".
3- Selecione e transcreva o trecho da carta em que fica evidente a relação populista que Vargas buscava manter com o povo.
4- No Brasil de hoje, políticos ainda adotam a prática do populismo?
5- De sua opinião sobre a atitude do Presidente Getúlio Vargas em deixar uma Carta Testamento para o povo brasileiro.