sábado, 14 de julho de 2012

Missões Jesuíticas

O estudo da temática Missões Jesuíticas tem por objetivo possibilitar aos estudantes contatar com a história no local onde ela aconteceu, lhes proporcionando uma visão da história com uma pitada de realidade, tornando o estudo interessante e atrativo.



A MISSÃO

Ficha Técnica:
A MISSÃO - (The Mission)
País/Ano de produção: Inglaterra, 1986.
Duração/Gênero: 125 min., drama histórico.
Disponível em vídeo e DVD
Direção de Rolland Joffé
Roteiro de Robert Bolt
Elenco: Robert De Niro, Jeremy Irons, Liam Neeson, Aidan Quinn

RESUMO:
No século XVIII, na América do Sul, um violento mercador de escravos indígenas, arrependido pelo assassinato de seu irmão, realiza uma auto-penitência e acaba se convertendo como missionário jesuíta em Sete Povos das Missões, região da América do Sul reivindicada por portugueses e espanhóis, e que será palco das “Guerras Guaraníticas”.
A Missão indica ter fé e dedicar tempo, trabalho, conhecimento e a própria vida para fazer com que pessoas relegadas ao esquecimento possam atingir Deus. Superar o caos que tomou conta do cenário europeu em virtude do protestantismo de Calvino, Henrique VIII e, principalmente, Lutero. Fazer parte do exército de Cristo, sob o comando de Inácio de Loyola, e iniciar a Contra-Reforma (ou Reforma Católica) convertendo os americanos (os índios do Novo Mundo) aos ditames da Bíblia. Tarefa digna de verdadeiros Hércules.
Pois essa é a história que nos é contada (parcialmente) no filme de Rolland Joffé, "A Missão", vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes em 1986 (Melhor Filme). Contando a saga dos jesuítas que viveram na fronteira entre o Brasil, a Argentina e o Uruguai, na região de Fóz do Iguaçú, onde se estabeleceram os Sete Povos das Missões.
Tendo no elenco artistas do porte de Robert De Niro, Jeremy Irons e um ainda jovem Liam Neeson, o filme contou ainda com uma direção de arte esmerada, figurinos que reproduzem fidedignamente o período retratado, uma belíssima fotografia e um roteiro qualificado produzido por Robert Bolt. O prêmio em Cannes foi consequência de todas essas qualidades.
A história do filme nos mostra um caçador de índios daquela região, capitão Mendonza (Robert De Niro) que em suas buscas dá preferência aos nativos que já tivessem sido catequizados e aculturados pelos religiosos. Esses indígenas apresentavam grandes vantagens em relação aos demais por estarem adaptados ao trabalho, a língua, aos modos e aos hábitos dos europeus que viviam na América.
Paralelamente a trama vivida por Mendonza, há o trabalho árduo dos jesuítas. Tudo se iniciando com o desbravamento de uma região virgem e inóspita, onde as densas florestas e os animais selvagens constituíam obstáculos de difícil superação. Não menos hostis e pouco receptivos (pelo menos à princípio), os índios causaram dificuldades a alguns missionários enviados para a região dos Sete Povos. Para que fossem convertidos foi necessária a chegada de um padre mais experiente, capaz de superar qualquer dificuldade, conhecido como Gabriel (o ótimo Jeremy Irons).
Superadas as adversidades naturais e a repulsa inicial dos nativos, coube ao jesuíta impedir a ação do caçador de índios, Capitão Mendonza, em sua região. Ação essa facilitada pelo martírio vivido pelo personagem de De Niro, envolvido num triângulo amoroso de desfecho trágico, que o levou a prisão e a necessidade de superar seu pecado redimindo-se com uma pena exemplar, trabalhar em favor daqueles que haviam sido suas presas preferenciais, os indígenas.
Além das tramas que orientam os caminhos dos personagens principais, "A Missão" consegue mais, discute a questão da disputa que se travava na região pela posse das terras envolvendo Portugal, Espanha e a Igreja Católica (ameaçada de despejo de suas Missões Jesuíticas). Esse acontecimento histórico que se desenrolou por aproximadamente cem anos e foi discutido em diversos acordos entre portugueses e espanhóis acabou fazendo parte do filme, o que confere ao trabalho de Bolt (o roteirista) e de Joffé grandes méritos, afinal, não se trata de tema fácil e de grande aceitação pelo público.
Por motivos como os apresentados (qualidades indiscutíveis no roteiro, fotografia, direção de arte, atuação dos atores, direção segura,...) e, sabendo tratar-se de filme agradável, de bons resultados em termos de bilheteria, esse filme é indispensável para entender melhor esse período da nossa história, principalmente se atentarmos para o fato de que a ação dos jesuítas não é assunto regularmente trabalhado em sala de aula.
O que acontece nessa época é que, após certo tempo, muitos índios foram liberados de seu trabalho e os senhores escravagistas começaram a sentir falta da mão de obra proporcionada anteriormente pelos nativos.
Esse sentimento fez com que os senhores começassem a patrocinar o uso das “entradas e bandeiras”, expedições que adentravam a mata e capturavam índios para o trabalho escravo, bem como recuperavam nativos que já haviam sido liberados. Essa situação proporcionou um confronto histórico, pois índios que já sabiam ler, escrever e conheciam a bíblia passaram a ser capturados pelos bandeirantes – equipes que penetravam nas matas em busca de exploração ou “mão-de-obra gratuita”.
Esse período é mostrado no filme. A única pessoa que apoiava as missões dos bandeirantes era o Rei da Espanha. As cortes europeias, já de pensamento iluminista (razão e ciência), se colocavam contra os ensinamentos da Companhia de Jesus (fé e emoção) e, Portugal mandou ordens para que se recuperasse os índios catequizados, aproveitando desse movimento anti-cristão.

CONTEXTO HISTÓRICO
Ao longo dos séculos XVI e XVII várias missões católicas foram criadas pelos jesuítas na América do Sul. Surgidas no século XIII, com as ordens mendicantes, esse trabalho de evangelização e catequese, desenvolveu-se principalmente nos séculos XV e XVI, no contexto da expansão marítima européia.
Embora tivessem como objetivo a difusão da fé e a conversão dos nativos, as missões acabaram como mais um instrumento do colonialismo, onde em troca do apoio político da Igreja, o Estado se responsabilizava pelo envio e manutenção dos missionários, pela construção de igrejas, além da proteção aos cristãos. Na análise de Darcy Ribeiro em "As Américas e a Civilização", as missões caracterizaram-se como "a tentativa mais bem sucedida da Igreja Católica para cristianizar e assegurar um refúgio às populações indígenas, ameaçadas de absorção ou escravização pelos diversos núcleos de descendentes de povoadores europeus, para organizá-las em novas bases, capazes de garantir sua subsistência e seu progresso".
Durante o século XVIII o movimento missionário enfrentou problemas na América do Sul, em áreas de litígio entre o colonialismo espanhol e português. No sul do Brasil, a população indígena dos Sete Povos das Missões, foi submetida pelo Tratado de Madrid (1750), um dos principais "tratados de limites" assinados por Portugal e Espanha para definir as áreas colonizadas.
Pelo Tratado de Madrid, ficava estabelecida a transferência dos nativos para margem ocidental do rio Uruguai, o que representaria para os guaranis a destruição do trabalho de muitas gerações e a deportação de mais de 30 mil pessoas. A decisão foi tomada em comum acordo entre Portugal, Espanha e a própria Igreja Católica, que enviou emissários para impor a obediência aos nativos. Os jesuítas ficaram numa situação delicadíssima, pois se apoiassem os indígenas seriam considerados rebeldes, e se contrário, perderiam a confiança deles. Alguns permaneceram ao lado da coroa, mas outros, como o padre Lourenço Balda da missão de São Miguel, deram todo apoio aos nativos, organizando a resistência desses índios à ocupação de suas terras e à escravização. Dá-se o nome de "Guerras Guaraníticas" para esse verdadeiro massacre dos nativos e seus amigos jesuítas por soldados de Portugal e Espanha. Apesar da absurda inferioridade militar, a resistência indígena estendeu-se até 1767, graças às táticas desenvolvidas e as lideranças de Sépé Tirayu e Nicolau Languiru.
No final do século XVIII, os índios já tinham sido dispersados, escravizados, ou ainda estavam refugiados, na tentativa de restabelecer a vida tribal, que os caracterizava antes das missões.
O filme “A Missão” aborda a colonização jesuítica na região formada pela fronteira entre o Brasil, Paraguai e Argentina, onde se situa as cataratas de Foz do Iguaçu. Os eventos narrados estão ambientados no século XVIII.
A história se inicia mostrando o trabalho de evangelização dos índios guaranis por jesuítas. O principal religioso é Padre Gabriel, personagem vivido pelo ator Jeremy Irons. O trabalho dos jesuítas na América do Sul era de tentar converter os índios para o cristianismo e ensiná-los a desenvolver os hábitos comuns aos europeus. Essa tarefa teve bastante sucesso, pois os índios além de adotarem a religião de Roma, passando a acreditar num Deus único, começaram a usar roupas, comer com talheres e fazer coisas sofisticadas para a época, tais como aprender canto lírico e fabricar violinos de excelente qualidade. Na medida em que a colônia – conhecida como missão, daí o nome do filme – começou a prosperar, o reino de Portugal passou a cobiçá-la, assim como aos índios, para que fossem escravizados.
Paralelamente, o filme conta a história de Rodrigo Mendoza (Robert De Niro), um caçador de escravos que após matar seu irmão em uma discussão movida por ciúmes torna-se padre, como forma de se penitenciar de seu arrependimento. Porém, no momento em que a corte resolve tomar a missão, Padre Rodrigo resolve lutar ao lado dos índios, decepcionando Padre Gabriel, que entendia que um jesuíta não poderia lutar com armas para defender suas convicções.
Ao final, não tendo sido possível para Padre Miguel evitar o conflito junto aos seus superiores, as tropas portuguesas arrasaram a colônia e os índios, havendo um extermínio completo, inclusive dos padres jesuítas.

Sugestão para Debate

  • Há no filme A Missão três figuras-chave. Qual o papel evocativo de cada uma delas?
  • O índio reduzido tem sua organização tribal (e interior) desestruturada fazendo-o frágil frente aos ataques. Debata a questão das missões e reduções jesuíticas provocaram radicais mudanças na cultura do indígena.
  • O que significou para os povos indígenas a chegada do europeu?
  • O que o europeu queria dos povos indígenas?
  • Qual o tipo de modo de produção utilizado nos aldeamentos?
  • Descreva a relação histórica entre entradas e bandeiras?
  • Qual sua opinião com relação à abordagem histórica feita pelo autor do filme.

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